O Brasil está pronto para a Internet das coisas?

O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações lançou, em outubro, o Plano Nacional de Internet das Coisas. O principal objetivo é inserir o país na revolução econômica e tecnológica da conectividade de dados. Dentre as melhorias que esse investimento pode promover estão: a gestão integrada de serviços nas cidades, a visão integral da saúde de pacientes, o aumento de produtividade no campo e maior cooperação das diversas cadeias produtivas da indústria.

A Internet das Coisas (IoT, em inglês) é a interconectividade que permite a coleta e o compartilhamento de dados, facilitando a comunicação entre empresas, produções industriais, setores públicos e a sociedade. Dentro das casas, a IoT atua por meio de sensores, por exemplo, que permitem o ajuste da temperatura ambiente nos aparelhos de ar-condicionado. No varejo, câmeras e sensores podem monitorar a disposição de produtos em uma prateleira, avisando automaticamente o fornecedor da necessidade de reposição. Em uma linha de produção, máquinas podem prever suas próprias falhas, necessidades de manutenção e até sugerir ajustes no processo de produção.

O plano brasileiro está em discussão desde 2013, e conta com parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ao longo de sua elaboração, diversos workshops e reuniões com membros da sociedade civil e empresas foram realizados.

Para ampliar a adoção da Internet das Coisas no país, o plano prevê uma série de iniciativas, como: definir mecanismos para o estímulo de provedores regionais, com especial ênfase para oferta de conectividade para o ambiente rural; adaptar linhas de crédito ao setor público para apoiar Cidades Inteligentes e adoção de soluções IoT; fomentar a adoção de IoT em pequenas e médias empresas; e apoiar a criação de fundos garantidores e estruturadores das PPPs, incentivando a adoção de IoT em cidades. Quatro setores devem ser prioritariamente desenvolvidos a partir das ações do plano: cidades, saúde, rural e indústria. De acordo com o BNDES um fundo inicial para a execução do plano já conta com 500 milhões de reais, mas o orçamento necessário à implementação de todas as medidas previstas deve ser apresentado até o final do ano.

Desafios

Apesar das ambições, o Brasil tem baixa inclusão digital, investe muito pouco na universalização das telecomunicações e tem cortado investimentos do desenvolvimento científico. Um relatório recente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) sobre economia digital mostrou que 41% dos brasileiros não estão conectados. O Tribunal de Contas da União denunciou, em abril deste ano, que, entre 1997 e 2016, apenas 5% dos 85,4 bilhões de reais arrecadados pelos fundos de telecomunicações – um total de 85,4 bilhões de reais – foram investidos nas finalidades previstas. E o próprio plano de Internet das Coisas aponta que, entre 2013 e 2015, o número de bolsas para engenheiros e outros profissionais da área de tecnologia caiu de 41.000 para 26.000.

A discussão sobre os investimentos no setor não são de hoje e, para o presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia e senador Otto Alencar (PSD-BA), a falta de verbas é um dos grandes problemas para o desenvolvimento das áreas de tecnologia e ciência no país. “Definitivamente, os recursos não são suficientes e vêm sendo contingenciados”. Alencar alerta para o fato de que os fundos criados para o Ministério têm sido usados como instrumento fiscal, para reduzir o déficit nas contas públicas. De fato, relatório produzido pelo TCU mostra que 81% dos recursos dos fundos de telecomunicações foram utilizados pela Secretaria do Tesouro Nacional.

A discussão sobre avanços tecnológicos também parece desconectada da realidade nacional. Enquanto o Brasil discute da implementação do 5G (nova geração de rede móvel ou sistema sem fio), junto com países como a China e a Alemanha, cerca de 117 milhões de brasileiros vivem em domicílios sem acesso à internet, de acordo com dados de 2015 do IBGE. O próprio plano de Internet das Coisas ressalta a importância de estruturar o país. Segundo o relatório, 48% dos empregados brasileiros afirmaram não possuir habilidades específicas com tecnologias. Além disso, a porcentagem de empregados especializados ainda é muito baixa: no Brasil, apenas 7% trabalham com tecnologia, enquanto na Alemanha essa parcela já é de 15%. Internet das Coisas: A SONDA mostra como fazer a integração de soluções para atendimento de ponta a ponta Patrocinado 

Num cenário como esse, é importante voltar alguns passos e rever aspectos básicos do desenvolvimento, em vez de achar que a tecnologia é o remédio para os problemas sociais do país. No fim das contas, o Brasil ainda é um país que discute inovação numa ponta, e lida com ineficiência na outra.

 

Fonte: exame.abril.com.br

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